domingo, 2 de outubro de 2016

Estória de uma História – Escravos Brasileiros

No começo da década de 90, a Etergran, empresa que eu trabalhava na época, foi executar a obra do Carrefour La Plata na Argentina e a parte da exportação do piso dessa estória eu já contei aqui no blog (http://inglesdopiso.blogspot.com.br/2016/08/estoria-de-uma-historia-1-exportacao.html), vamos agora contar a parte humana da história.

Como o piso da Etergran não chegou em boas condições na obra, foi comprado um piso marmorizado da Bossi, uma empresa de Buenos Aires, e a Etergran ficou com a parte da mão de obra de aplicação, aí que começa esta estória.

Os primeiros funcionários que chegaram entraram pela fronteira argentina apenas com a carteira de identidade o que dá apenas o direito de turismo, para trabalhar é necessário passaporte com visto de trabalho no consulado, e foi necessário todo um trabalho da construtora para a legalização do pessoal no país atrasando ainda mais o início.

A Argentina vinha de uma grande crise com o plano Austral, a construção civil ficou paralisada por um longo período, a obra do Carrefour era uma das poucas na Argentina e a chegada de brasileiros para a obra chamou muito a atenção.

Quando os brasileiros começaram a trabalhar e viram que a produção era muito grande, pois trabalhavam muito depois do expediente e até virando a noite para compensar o atraso da obra, chamou a atenção do sindicato local.

Nossa legislação na época era diferente, o alojamento era com colchões no chão, não tinha bebedouro, beliche, armários e etc. como manda a legislação atual.

Nosso salário na época era muito menor que o dos argentinos que ganhavam em dólar.

Com a grande repercussão, a maior emissora de TV Argentina fez uma matéria bem sensacionalista em seu jornal com o título “Escravos Brasileiros” onde mostraram os salários, as condições do alojamento e o pessoal trabalhando no período noturno fazendo dobra.

O que para nós brasileiros era absolutamente normal, pois as obras eram feitas dessa forma por aqui, para os argentinos era um absurdo.

O sindicato local além de obrigar a construtora a melhorar as condições do alojamento, proibiu as horas extras e mandou equiparar o salário com os argentinos em dólar, além de uma bonificação semanal.

No final da obra os ¨escravos brasileiros¨ voltaram com a mala cheia de dólar, mas isto é a terceira parte da resenha que em breve contarei.

Um segredinho, faziam horas extras escondidos para que o prazo fosse cumprido.

A dedicação e empenho dos operários da construção civil brasileira é diferenciado, por isso executamos obras em diversos países com sucesso, estes homens são merecedores de reconhecimento e elogios.

 Boas Obras!!!


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